sábado, 25 de abril de 2009

Ice-dream




As mudanças sempre foram motivo de questionamentos para Ana, tinha orgulho de se olhar no espelho e notar o quanto as suas feições sempre redondinhas ganhavam caráter maduro com o passar do tempo. Seus gostos também já não eram mais os mesmos, havia 2 anos que ela mudara o sabor favorito de seu sorvete, pistache já era coisa do passado. Aliás, essa era uma daquelas transformações que não adquirem forma definida nem definitiva, apenas mudam... para o quê? Bem, houve aqueles dois dias do morango, o de damasco light por ser lançamento chegou a durar algumas semanas, mas nunca, nenhum sabor a saciava completamente assim como o de pistache fizera outrora.
A corriqueira mudança de gostos já tinha virado neurose, e Aninha passou a buscar incessantemente o sabor que a completasse. Assim como os apaixonados buscam nos seus amores o complemento para a sua existência, Ana idealizou aquele sorvete como o que lhe faltava, em quaisquer circunstâncias. Foi em um dia, quando, esperançosa, entrou em uma sorveteria que ouviu uma mulher tipão escadaloso falar para outra mais tímida:
-Tá esperando um milagre, é?!
“Tá esperando um milagre, é?!”. E já perto do balcão ela viu o seu reflexo no vidro acima das cores vibrantes e infantis que vinham dos potes de sorvete. O rosto que viu, porém, não tinha seu nariz, seu cabelo, suas olheiras de noites de estudo, mas ainda assim lhe era familiar. A menina que a olhava sorriu, e quase que de imediato reconheceu a forma curva de seu sorriso e claro, suas covinhas irregulares. Havia mais de 15 anos que não via aquele semblante, naquela época ela tinha então 6 anos e olhava-se no espelho. Lembrou que, nesta época, não importava se ralava o joelho, batia na quina da porta ou tropeçava nas pedrinhas da calçada, a solução era sempre sorvete de pistache. Os tropeções agora eram maiores, bem maiores. Percebeu que havia anos que tentava ignorar o fato de que seus problemas não eram mais os mesmos, e na tentativa de escape se prendeu no que era a sua fuga quando o seu maior problema era a boneca que andava desaparecida.
- Ei mocinha, posso ajudar?
Naquela tarde, Ana saiu com um sorvete de pistache em uma mão e o celular na outra. Na boca, sentia gosto de nostalgia, ao telefone falava poucas e boas para a chefe. Daquele dia em diante fez por conta, não esperou mais milagre nenhum fazer nada por ela, passou a idealizar seus objetivos, não sua vida e além de tudo aprendeu a apreciar todos os sabores de sorvete que a vida lhe oferecia, sem cobertura, originalmente sorvetes, bons ou ruins, sempre gelados.

6 comentários:

  1. A garotinha que cresceu e se tocou disso!
    Nat, agora ficou melhor, você mudou poucas coisas mas deu uma melhorada boa. O final está com cara de final, e eu entendi o que voce quis dizer!

    ótimo texto!

    Beijos!

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  2. vallim vc é ridículo, vc tem que falar bem do meu texto como se ele tivesse sido criado bom, e não contar desta maneira escancarada para os meus potenciais leitores de que eu tive pesadelos para conseguir terminar esse texto!
    ôôo tristeza viu! tirou toda a graça! -.-'

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Nat, apesar de tudo até que ficou legalzinho sabe. O final é óbvio, mas tudo bem, deu paa captar a ideia, eu acho.
    Está extremamente bom. ( E depois você tem a cara deslavada de me dizer que não sabe escrever. ><' )
    beijos.

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  5. eu acho q vc fala de mais q nao sabe escrever..
    e isto nao eh verdade, bem legal este texto.
    mas quero ve outros seus =P

    bjao

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  6. Ah... gostei demais, Nat!
    Criativo, espontâneo e metafórico... muito legal!

    p.s: Me deu fome.

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